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Polícia não acredita em declaração de vídeo sobre abusos em Caiapônia

A Polícia Civil descartou a participação de Francisco Gomes Belo nos abusos sexuais praticados contra quatro meninas com idades de 3, 7, 10 e 13 anos, em um acampamento, em Caiapônia. Em um vídeo ele afirma ser o autor das práticas libidinosas. Entretanto, as suspeitas recaíram, desde o início das investigações, sobre o líder espiritual Nilson Alves de Sousa, de 49 anos. Os casos foram divulgados na última sexta-feira (4/01).

Francisco Gomes é companheiro da avó das crianças, Noêmia Cândida de Jesus, de 42 anos. “Ele era seguidor. Parece que foi curado de um problema no joelho e ia ao local, mas não participava dos crimes”, esclareceu o delegado Marlon Souza.

Na filmagem que a Polícia Civil teve acesso, Francisco, ao lado de Noêmia, que não expressa nenhuma reação durante toda a gravação, diz ter praticado os abusos e afirma que as meninas o seduziram. Nas imagens, o companheiro afirma que a neta mais velha da mulher, de 13 anos, seria a responsável por convencer as demais. Ele fala ainda que teria praticado mais de 30 abusos.

Para o delegado, o vídeo foi feito pelo líder espiritual mediante coação. O investigador contou ainda que a neta mais velha da mulher, em depoimento prestado no domingo (6/01) junto com a mãe, afirmou que as informações do vídeo não procedem e atribuiu a autoria dos crimes a Nilson. Ele, assim como a avó das meninas, está preso desde a última sexta-feira. No relato, a adolescente disse que os abusos aconteceram em julho de 2018, quando ela passou um período com a avó materna. A menina narrou que ela, a avó e as primas passaram alguns dias no acampamento e chegaram a dormir na barraca do líder. Neste período, que faria parte de um processo de purificação e aprendizagem, ela teria sido abusada por sete dias seguidos na presença da prima de 7 anos, também apontada como vítima do líder.

A menina contou ainda que Nilson chegou a ameaçar de morte a avó paterna, caso ela contasse para alguém sobre os abusos. “Ela tem uma ligação muito forte com a avó e ele aproveitou isso para intimidá-la”, pontuou o delegado.

Os abusos foram descobertos pela mãe da adolescente no final de setembro que procurou a delegacia e registrou a queixa. Em novembro, outra mãe compareceu à polícia pelo mesmo motivo. As investigações começaram neste período. As informações iniciais apontam que a avó das meninas, em busca de enriquecimento, as levou até o acampamento.

Marlon destacou ainda que Nilson teve dois acampamentos em Caiapônia e os abusos teriam acontecido no primeiro, realizado na Fazenda Campo Belo. O líder teria permanecido por cerca de dois anos e meio no local até ser expulso. No segundo endereço, Nilson estava há cerca de cinco meses e a polícia investiga se houve abusos no local.

Medo

Na manhã desta segunda-feira (7/01), uma criança de 3 anos, a possível quarta vítima do líder espiritual, foi ouvida pelo delegado. A garota, que é irmã das meninas de 7 e 10 anos estava acompanhada de familiares.

A avó paterna da menina procurou a delegacia e contou que a criança ficou assustada ao ouvir a voz de Nilson durante uma matéria na televisão sobre os abusos. Ela, ao perceber o comportamento da neta, conversou com a menina e esta teria relatado que esteve no acampamento. “Ela falou o nome dele e contou que ele pegou no bracinho dela e a levou para um local, onde teria praticado o crime”, esclarece o delegado.

A defesa de Nilson e Noêmia afirma que ambos negam os crimes e diz já ter protocolado um pedido de revogação de prisão preventiva. “Se negado, eu impetrarei um habeas corpus no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás”, adiantou o advogado Leonardo Couto Vilela.

Objetos revelam traços de incoerência religiosa

O delegado que apura a denúncia dos abusos em Caiapônia, Marlon Souza, contou que nesta segunda-feira foi analisar, novamente, os objetos apreendidos com Nilson Alves de Sousa, de 49 anos. Além do diário onde ele descrevia os abusos com detalhes e nomes das vítimas, foram recolhidos um colete, um crucifixo cristão e uma estrela de Davi. No entanto, o que chamou a atenção foi uma caneta de tubo transparente, onde estava escrito de forma errada o nome de Lúcifer (Lucif). “Ele (Nilson) é um sincretismo religioso. Uma mistura completa de várias coisas. Nem ele sabe o que é”, ressalta.

O delegado afirmou que tem dez dias para concluir o inquérito e que pretende ouvir outras pessoas que frequentavam o local. “Queremos saber o que este homem oferece para que as pessoas o procurem e o que ele pede em troca, queremos saber se mais pessoas, crianças ou não, também foram vítimas de algum abuso”, destaca.

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