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Celular é mesmo o vilão da infância contemporânea?

As facilidades de acesso aos dispositivos móveis se acentuaram nesse momento de pandemia, pois as pessoas estão mais ligadas nas redes sociais, incluindo as nossas crianças. Devido a essa observação, li com curiosidade um artigo na revista Veja São Paulo escrito com base no Programa de Dependências Tecnológicas do Hospital das Clínicas de São Paulo.   O texto publicado no mês de junho de 2019, lista oito sinais que podem identificar uma possível dependência de internet e vale a pena guardar para análise. São eles: (1) pensar o tempo todo em estar conectado, (2) ficar alegre, feliz e satisfeito quando passa mais tempo na internet, (3) tentar parar de usar a internet e não conseguir, (4) sentir irritação, raiva, ansiedade ou sinais de depressão quando está off-line, (5) mudar o humor ou comportamento quando entra em contato com a internet, (6) perder a noção do tempo em que fica conectado, (7) isolar-se, não ter amigos e apresentar dificuldade de se relacionar pessoalmente pelo uso excessivo da internet, (8) e, por fim, mentir sobre o tempo que fica conectado.   A leitura desse artigo me remeteu a uma experiência vivida em janeiro deste ano, durante as férias escolares, quando constatei uma triste realidade: as crianças não brincam após ganharem um celular. Recebi a filha de uma amiga, então com 9 anos de idade, e nos primeiros dias da estadia o celular era companhia inseparável da garota em qualquer lugar que ela estivesse, era como se fizesse parte daquele corpo. A companhia do meu filho pequeno não fazia a menor diferença, pois ela teclava e conversava virtualmente com seus colegas o dia todo.   Traçando um paralelo com o artigo supracitado, identifiquei que a garota poderia estar “viciada” nas redes sociais, baseada em alguns daqueles sinais que foram apresentados por ela e que a privaram de brincar com outra criança, se socializar. Eis que surgem, então, alguns questionamentos. Assim como eu, você já presenciou crianças concentradas nos celulares em consultórios médicos, ou no playground dos condomínios, ou em praças esportivas e festas familiares?   A resposta para essas situações, me parece, é que o vilão que leva as crianças a perder suas infâncias não é os celulares, nem as redes sociais ou as tecnologias. Ele está dentro de casa e pode ser um ou dois. São os próprios pais que permitem o uso desenfreado dos aparelhos tecnológicos, assim como são eles que têm o poder de compra.   Outra reportagem denominada “Os riscos de as crianças viverem coladas a celulares”, publicada em 2019 também pela Revista Veja, aborda os danos que um smartphone pode trazer para a vida de uma criança ou adolescente quando o aparelho é utilizado sem regras. As constatações apresentadas são de que o acesso a aparelhos digitais antes dos oito anos de idade implica em problemas de aprendizado, pode gerar problemas de visão entre os pequenos e aumento da depressão entre os adolescentes de 10 a 14 anos, entre outros efeitos danosos.   Diante disso, devemos destacar que é compreensível e não é fácil ser responsável por outra pessoa, ainda mais quando ela é totalmente dependente dos seus cuidados o tempo inteiro. Mas educar passa pelo exemplo, isso é inevitável. Precisamos apenas compreender se tal atitude dos pais ou responsáveis é por conveniência para ter aquele tão almejado momento de sossego ou se ver as crianças perderem a saúde física e mental não faz a menor diferença nos dias de hoje.

Professora Marina Toscano Aggio (Foto: Divulgação)

 

(*) Marina Toscano Aggio é mestre em Educação e professora de Linguagens Cultural e Corporal nos cursos de Educação Física (Licenciatura e Bacharelado) do Centro Universitário Internacional UNINTER

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