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Morre João Batista de Faria, 1º presidente da Câmara Municipal de Vereadores de Piranhas

Jotta Oliveira – em Piranhas

João Batista de Faria (Foto: Reprodução/O+Positivo)

O corpo de João Batista de Faria, de 92 anos, foi enterrado durante a manhã desta quarta-feira (21/10) no cemitério São Miguel. João Faria – como era conhecido na Região – faleceu na tarde da última terça-feira (20/10) em decorrência de uma trombose que, após algumas complicações, evoluiu para uma forte infecção.

João Batista de Faria nasceu em Caiapônia em 1922 e foi um dos principais personagens durante a criação do município de Piranhas, tendo, inclusive, participado da primeira legislatura da Câmara Municipal de Vereados, onde foi também o primeiro presidente.

A Prefeitura de Piranhas decretou luto oficial de três dias e ponto facultativo nesta quarta-feira.

O Jornal O+Positivo, em 2007, publicou parte da história de João Batista de Faria; confira abaixo

Piranhense convicto

Metódico e observador, assim se pode definir João Batista de Faria, 84 anos, dedicado à família e ao desenvolvimento da região de Piranhas.

Descendente do clã dos Faria, vindos de Minas Gerais no século XIX, nasceu no município de Caiapônia em 25 de novembro de 1922, a poucos quilômetros da sede do atual município de Piranhas. João Faria, dono de uma inteligência refinada, desde cedo, com seu espírito criativo e visão aguçada, em muito contribuiu para o desenvolvimento do município, inclusive, tendo a gleba de terra onde começou a cidade vindo de seus pais, Estêvão José de Faria e Rosalina Josefa dos Santos.

Casado com Gerantina de Morais Faria, em 1946, também de tradicional família rural da região, despontou como próspero comerciante. Foi o primeiro proprietário da Casa Faria, do primeiro posto de gasolina, do primeiro cinema; foi fotógrafo, dono de oficina mecânica, teve casa de materiais de construção e caminhão que levava e trazia produtos de Uberlândia, MG; também foi dele o primeiro aparelho de TV da cidade. Sempre muito curioso, fazia tanto suas próprias instalações elétricas e hidráulicas, como também as dos seus amigos e parentes.

Durante todo o percurso de sua vida despontou-se como colecionador de coisas antigas e documentos históricos da região, sendo, sem duvida nenhuma, possuidor do maior acervo histórico do município piranhense. Muito organizado, segue anotando tudo que lhe chama a atenção. Em seu escritório, que aos poucos vai se transformando em museu, incluem-se objetos variados, fotos, documentos, fitas de música e de vídeo, discos em vinil e registros pessoais que envolvem os mais diferentes temas, tais como: quantidade de chuva, enchentes, temperatura e fatos importantes. “Tenho três diários onde anoto tudo que considero importante, faço isso desde os anos cinqüenta”, conta mostrando os livros de registro. Nesse sentido houve um fato curioso. Ao observar diariamente o local do nascer e pôr do Sol, usando dois pontos referenciais e um medidor feito de ripas, para ver a diferença entre os caminhos do Sol no inverno e no verão, comentou com a família que o Sol tinha ‘andado’ muito naquele dia. Era 26 de dezembro de 2004. Alguns dias depois, cientistas alertaram que o abalo sísmico que provocou o tsunami na Ásia, naquele final de ano, tinha deslocado sensivelmente o eixo da Terra.

Entre seus atributos está a dedicação especial à esposa e às duas filhas, Maria Glória de Faria Nunes dos Santos e Rosamaria de Faria Carvalho, das quais se orgulha muito ao falar. “Sou realizado com minha família, embora pequena, é motivo de muita alegria”, garante.

Da política, João Faria traz boas recordações, já que compôs a primeira Câmara do município piranhense, de 1954 a 1958, sendo o primeiro presidente da casa de leis e o primeiro vice-prefeito. “Hoje a política está muito diferente, não se administra mais por amor à região, também há muitos conflitos por interesses pessoais. Olha só Piranhas! Está muito caída, muita gente mudando, a cidade está precisando evoluir”, lamenta. Mesmo assim João Faria garante que nada o levaria a sair de sua cidade. “Se me der qualquer prédio de ouro para eu mudar de Piranhas não mudo, gosto muito daqui, não saiu daqui de jeito nenhum”, declara com a convicção de quem não se arrepende de sua trajetória. “Se eu fosse começar a vida hoje, faria tudo do mesmo jeito, gosto assim”, diz o homem que pouco freqüentou a escola e possui uma gama de conhecimentos de dar inveja a graduados.

Dono de um espírito que não se deixa abalar, enfrentou dois problemas graves de saúde. Quando foi atacado pela polineurite, mal degenerativo incurável, venceu-a parcialmente, interrompendo o efeito degenerativo. Em outra ocasião, após ter sofrido o segundo AVC, saiu do hospital em uma cadeira de rodas; depois de cinco dias, levantou-se sozinho, e, segurando-se nas paredes, comoveu a família ao afirmar, em pé, que nunca mais se sentaria ali. E assim fez com tenacidade.

Grande conciliador, nunca foi apegado às coisas materiais, tudo que era seu era também dos outros. Sempre foi admirado e respeitado por todos, inclusive pelos jovens, que se deleitam com sua memória, sua meticulosidade e organização, seu espírito observador e suas histórias ‘de antigamente’. Os netos e bisnetos veem nele um espelho de vida.

“Minha vida toda foi boa, com muita satisfação, com amizade com todo mundo. Minha casa é sempre cheia de gente.”

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