Jotta Oliveira – em Piranhas
Ambulâncias chegam a transportar até seis pacientes em cada viagem (Foto: Jotta Oliveira/Tribuna Piranhense)
O termo pau de arara foi usado, durante muito tempo, para nomear uma vara utilizada no interior do país para o transporte de araras, papagaios e outros pássaros. Mas, com o passar dos tempos, isso mudou. Passou-se a chamar de pau de arara, a carroceria de veículos onde são colocadas tábuas que servem de assento e onde são instaladas lonas como cobertura para proteger os passageiros da chuva, do calor do Sol, além de outras intempéries durante curtas ou longas viagens.
No passado e nos dias de hoje, em algumas partes remotas do nosso Brasil, o pau de arara ainda é usado, sob a justificativa de que não há outras formas para o transporte de maiores quantidades de pessoas.
Passadas as explicações, como poderíamos denominar a forma que os que precisam de tratamento de saúde especializado fora de Piranhas são transportados? O amontoado de pessoas, os sacolejos nas rodovias precárias de Goiás, o calor e tudo mais que contribui para a precariedade do transporte dos pacientes piranhenses nas ambulâncias da Secretaria Municipal de Saúde de Piranhas? Seria a versão “pau de arara” do transporte de pacientes, com um espaço reduzido e lotado por pessoas que não têm escolha, a não ser depender do Sistema Único de Saúde? Siga lendo e responda, ou não, a todas estas perguntas.
Crianças, adultos e idosos têm enfrentado sofrimentos há anos quando descobrem que precisam deste ou daquele exame mais complexo. Isso porque eles precisam ir para cidades possuidoras de uma estrutura maior em relação aos atendimentos na área de saúde. Piranhas oferece atendimentos em casos de baixa e média complexidade, sendo necessário, em muitos casos, encaminhar pacientes para a capital do estado e outras localidades, para realizar diversas cirurgias, exames, consultas e demais procedimentos nos quais a rede de saúde local não possui especialistas e/ou equipamentos adequados para realizar.
De acordo com a Secretaria de Saúde de Piranhas, todos os deslocamentos de pacientes a Goiânia e outros centros, quando não se pode contar com o veículo do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), são feitos pelas pequenas e apertadas ambulâncias do município. E para piorar, há dias em que seis ou mais pessoas participam de viagens dentro do espaço mínimo disponibilizado dentro de cada veículo. São centenas e centenas de quilômetros, onde, já não bastassem os sintomas das enfermidades que cada passageiro está indo tratar, ainda precisam conviver com a precariedade de um transporte que chega a ser desumano.
O problema enfrentado pela Secretaria de Saúde nos dias atuais não surgiu agora. Isso é verdade. Administrações anteriores e futuras devem continuar precisando enviar pacientes para outras localidades enquanto a cidade não possuir estrutura para realizar procedimentos mais complexos. Hoje, por exemplo, grande parte das fraturas ósseas não pode ser tratada em Piranhas.
O que se nota é que é impossível que as ambulâncias ou os pacientes do município suportem a quantidade e a qualidade dos deslocamentos realizados. Os veículos saem lotados e sem espaço minimamente confortável para um ser humano se mover. Isso vem acontecendo durante muito tempo e é desrespeitoso para com o doente que já está sofrendo e ainda tem que passar por tudo isso.
E a solução? Ela existe? O vereador Fernando Lizardo (PR), que foi presidente da Câmara Municipal de Piranhas em 2013, ao devolver o que sobrou da verba destinada ao Legislativo no ano, deu uma sugestão que poderia resolver em grande parte o problema. Foi sugerido ao Executivo, que os cerca de R$ 96 mil fossem investidos na compra de uma Van destinada à Secretaria de Saúde. Em entrevista ao Tribuna Piranhense, em 2014, Fernando disse acreditar que a compra de um novo veículo poderia ajudar a solucionar a questão.
“Eu sugeri que, com o dinheiro que conseguimos economizar em minha gestão como presidente da Câmara, fosse adquirida uma Van Sprinter, com quinze lugares. A atitude pode fazer com que o paciente que precise ser atendido em outras cidades tenha mais conforto na viagem. O município também ganha com isso, pois o número de veículos em viagens vai diminuir, gerando economia na manutenção e com combustível”, explicou Fernando naquela oportunidade onde ele cobrava uma resposta para o que ele havia sugerido.
O prefeito de Piranhas, André Ariza Naves (PP), também já se manifestou aparentemente preocupado com a situação abordada aqui. Mas nada foi feito ainda. Aquisições de vans já foram anunciadas mais de uma vez, porém sem demonstrações reais de onde e como.
E ai? Já consegue me responder as perguntas lá do início do texto? Confesso que talvez chamar as ambulâncias de “paus de arara da saúde” demonstre um certo exagero. Não me leve a mal se me considera exagerado. É preciso fazer algo. Pobre também é gente e merece ser tratado com respeito e dignidade.