Destroços do helicóptero que caiu em fazenda de Piranhas, Goiás (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Familiares e amigos participaram na manhã desta terça-feira (8) de um culto ecumênico em lembrança aos seis anos da morte de cinco delegados e dois peritos criminais mortos na queda de um helicóptero a 35 quilômetros de Piranhas, no sudoeste de Goiás.
O grupo acompanhava a reconstituição de uma chacina ocorrida em Doverlândia – o principal suspeito estava na aeronave e também morreu. A queda do helicóptero é considerada o maior acidente aéreo da Polícia Civil de Goiás.
O inquérito sobre o caso só foi concluído no mês passado, e três homens foram indiciados. Não há informações sobre os cargos que eles ocupavam – se eram técnicos de manutenção de uma empresa terceirizada ou da própria corporação. O G1 não conseguiu localizar as defesas deles.
A Polícia Civil não quis informar por quais crimes e disse que só vai se posicionar sobre o inquérito – já remetido a uma Vara Criminal da Justiça Federal – após manifestação do Ministério Público Federal. O órgão disse ao G1 não ter encontrado o processo. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) não retornou aos contatos da reportagem para comentar sobre a demora nas investigações.
Para as famílias, ainda faltam respostas concretas para o que aconteceu. O culto ecumênico aconteceu no Instituto de Criminalística Leonardo Rodrigues, na Cidade Jardim. Os nomes de duas das vítimas – os peritos criminais Marcel de Paula Oliveira e Fabiano de Paula Oliveira, que eram primos – passaram a ocupar uma placa.
Pai de Fabiano, Carlos Alberto Silva comentou sobre o orgulho que sentia do filho. “Eram os melhores que estavam ali.”
Também morreram no acidente os delegados Antônio Gonçalves Ferreira, Osvalmir Carrasco, Jorge Moreira da Silva, Bruno Rosa Carneiro e Vinicius Batista da Silva.
Superintendente da Polícia Técnico-Científica, Rejane Barcelos citou a importância do trabalho dos colegas. “Sempre serão lembrados.”
Em 2016, relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) apontou que uma falha no motor causou a queda do helicóptero. Não se sabe, porém, qual foi a causa dessa pane.
Além desse problema, o documento aponta que, embora os pilotos tivessem toda experiência e habilitação necessária para realizar o voo, a aeronave estava com mais peso que o permitido na hora da decolagem e com a manutenção atrasada, portanto, “não estava aeronavegável”.
O laudo também apontou que o tempo de reação dos pilotos foi maior do que o necessário. O helicóptero era do modelo Koala e caiu após o motor apagar em voo a cerca de 300 metros de altura.
Por fim, o relatório disse que, antes da queda, a aeronave perdeu uma das hélices do motor principal. A pá foi arremessada a 150 metros do ponto da queda. De acordo com os testes, não foi identificado indícios de falhas estruturais causadas por desgaste da peça.
Problemas com a manutenção
Na época, a Agência Nacional de Aviação (Anac) divulgou um comunicado informando que a Fênix Manutenção e Recuperação de Aeronaves LTDA, empresa responsável pela manutenção do helicóptero da Polícia Civil que caiu, teve suas atividades suspensas pelo órgão a partir de 2 de maio de 2012.
O G1 tentou contato com a empresa por e-mail e aguarda resposta. Em auditoria técnica realizada pela Anac dias depois, em 21 e 22 de maio de 2012, concluiu-se que:
- Todas as evidências apontam para o fato de que a aeronave PP-CGO foi entregue à empresa Fênix na data de 4 de maio de 2012, pelo operador Polícia Civil, para a realização de serviços de manutenção;
- Houve realização de tarefas de manutenção na aeronave PP-CGO entre os dias 4, 5 e 7 de maio de 2012, nas dependências da oficina de manutenção Fênix Manutenção e Recuperação de Aeronaves Ltda.
- A empresa Fênix Manutenção e Recuperação de Aeronaves Ltda. realizou manutenção na aeronave PP-CGO, entre os dias 4 e 7 de maio de 2012.
De acordo com a Anac, após a apuração, a empresa voltou a ser suspensa, foi multada e teve seu escopo de manutenção reduzido quando realizou nova certificação.
O acidente
O helicóptero caiu na zona rural de Piranhas no dia 8 de maio de 2012, quando a equipe voltava de uma reconstituição da chacina de Doverlândia, ocorrida em 28 de abril de 2012. No crime, sete pessoas foram degoladas em uma fazenda.
Dois dias depois, Aparecido de Souza Alves foi preso suspeito do crime. Ele confessou ter matado todas as vítimas para roubar um dinheiro que estaria na propriedade. “No momento, só pensei no dinheiro. Fui totalmente estúpido”, disse ele na época do crime.
Logo depois, ele morreu na queda do helicóptero. Em janeiro de 2013, a Polícia Civil concluiu o inquérito sobre a chacina e apontou que Aparecido agiu sozinho. Peritos encontraram apenas o perfil genético do suspeito em materiais encontrados na fazenda, como cigarro e copos.
Indenização
O juiz Reinaldo de Oliveira Dutra, da Vara Cível, Criminal, da Infância e da Juventude, das Fazendas Públicas e de Registros Públicos da comarca de Acreúna, condenou o Estado de Goiás a pagar R$ 900 mil para os três filhos do perito criminal Fabiano de Paula Silva, por danos morais. A decisão é de outubro de 2017.
De acordo com os autos, com a morte do perito criminal, os três filhos menores dele vêm passando por dificuldades financeiras. O Estado de Goiás contestou o pedido de indenização, sob o argumento de que não pode ser civilmente responsabilizado pelo acidente da aeronave e que o valor de indenização é indevido e exorbitante.
Para o magistrado, porém, ficou caracterizado que a queda do helicóptero se deu pela ausência de manutenções, uma vez que a empresa contratada para fazê-las nas aeronaves do Estado de Goiás estava com as atividades suspensas pela Anac.
“Ficou comprovada que a morte do pai dos requerentes decorreu da própria atividade da Administração Pública e por falta de manutenção na aeronave do evento danoso”, afirmou o juiz.
“Não resta dúvida que a morte do genitor causou em seus filhos abalo psicológico considerável, capazes de acarretar dano moral indenizável”, completou.