Alexandre Bittencourt, 29 anos, foi diagnosticado com diabetes – uma doença caracterizada pelo aumento da glicose (açúcar) no sangue – em maio do ano passado. Ele conta que apesar de seu pai ter a doença, ele nunca se preocupou em preveni-la: “eu nem ligava para isso, eu tomava muito refrigerante, principalmente um de cola. E também na época eu estava muito gordo”, relata. Com a descoberta da doença, o cotidiano de Alexandre foi alterado: “Agora eu não posso mais comer nada que tem açúcar, e se eu ficar muito tempo sem comer me dá fraqueza e tontura. Essa é uma doença que muda a vida totalmente”, afirma.
Ele comenta que no início conseguiu abaixar os níveis de glicose no seu sangue, mas há aproximadamente um ano que não controla mais a doença: “No começo eu pesava 102 quilos e também estava com o colesterol alto, em dois meses perdi 25 quilos e abaixei os níveis de colesterol no meu sangue”, menciona. Alexandre informa que começou a perder o controle da doença quando começou a trabalhar numa empresa que oferecia gratuitamente pasteis e refrigerantes para os funcionários, “e de graça todo mundo quer, né? Eu comia três pasteis grandes toda a noite”, assume. Ele confessa que não pratica exercícios físicos e que há mais de três meses não vai ao médico.
Alexandre reconhece que não sabe com clareza quais são as complicações que o descontrole do diabetes pode causar: “Eu sou desinformado demais! Eu sei que pode dar cegueira e que o diabético tem dificuldade na cicatrização de ferimentos. Quando fui diagnosticado com a doença, o médico disse que já estava começando a afetar meus rins”, admite. Mas Alexandre garante que vai passar a se cuidar melhor: “Eu li na internet que algumas pessoas estão comendo abóbora em jejum para ajudar a controlar o diabetes e o colesterol, e eu estou querendo fazer um teste para ver se isso é verdade mesmo”, afirma.
Dia Mundial do Diabetes
Hoje é comemorado o Dia Mundial do Diabetes. O mal é a quarta causa de morte de morte no mundo e uma das doenças crônicas mais frequentes, especialmente em países desenvolvidos. Estima-se que quase 20 milhões de brasileiros possam ser diabéticos, sendo que quase metade deles desconheça o diagnóstico.
O médico Nelson Rassi, chefe da Seção de Endocrinologia do Hospital Geral de Goiânia (HGG) e presidente do Instituto de Assistência e Pesquisa em Diabetes (IAPD), ressalta a importância da data: “Dia 14 de novembro é um dia lembrado no mundo inteiro para se levar uma mensagem de conscientização a toda a população e aos diferentes segmentos da sociedade, visando alertar, mostrar e ensinar o que é o diabetes, a importância de identificar quem tem diabetes e controlar e prevenir aquelas pessoas que possam vir a ter diabetes”, explica.
Prevenção
O diabetes tipo 1 ocorre quando as defesas do organismo de uma pessoa – geralmente ainda criança – ataca o pâncreas (órgão que produz insulina, substância que possibilita a metabolização da glicose). Esse tipo da doença não pode ser prevenido e acomete cerca de 5% das pessoas que tem diabetes. Contudo, o tipo que mais preocupa as autoridades da área da saúde é o tipo 2, que sofre influência genética, afeta 95% dos diabéticos e pode ser evitado. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de diabéticos irá dobrar na próxima década.
Para o endocrinologista Sérgio Vencio, a falta de prevenção à doença é uma questão complexa devida a uma junção de fatores: “Talvez as pessoas não se convenceram ainda da importância da prevenção por achar que não vai acontecer com elas. Os fatores que levam ao aumento da incidência do diabetes é o que todo mundo gosta de fazer, que é comer muito muito e não fazer exercícios, então para combater essa doença é necessário ter disciplina para se exercitar, ter uma alimentação saudável”, avalia.
Rassi avalia que a prevenção à doença é mais importante do que o tratamento: “O diabetes é uma doença na maioria das vezes possível de ser prevenida desde que as pessoas tenham consciência desse fato. A prevenção ocorre através de bons hábitos de vida que incluem alimentação saudável e atividade física diária: caminhadas, academia, coisas relativamente simples que podem ser praticadas por qualquer pessoa”, constata.
Vencio salienta que o papel da sociedade médica é divulgar os perigos da doença em conjunto com o governo: “O governo não pode mascarar a informação que hoje no mundo se morre mais por obesidade do que por fome. O governo tem que assumir o ônus de fazer com que a população se alimente de forma mais saudável para prevenir essas mortes,” defende.
Complicações
Para o controle da doença, além dos cuidados com a alimentação e atividade física, é necessário que a pessoa com diabetes tome medicamentos, que variam de acordo com o tipo da doença.
Nelson Rassi adverte que 80% dos brasileiros com diabetes não controlam devidamente a doença por não tomarem os cuidados apropriados. “Praticamente todas as partes do nosso corpo acabam sendo lesionadas pelo mal controle do diabetes. Dentre os mais comuns podemos citar o envolvimento dos olhos (que pode levar à cegueira), a parte cardiovascular (levando ao infarto do miocárdio), os rins (insuficiência renal, transplante, diálise), a parte sexual (principalmente nos homens), a circulação das pernas (levando à gangrena e até à amputação), dentre outras inúmeras complicações. Praticamente todos os órgãos acabam sendo afetados naquela pessoa que descuida do controle do diabetes”, mostra.