Pesquisadores da Fiocruz anunciam descoberta sobre zika vírus em coletiva nesta sexta-feira (Foto: Henrique Coelho/G1 RJ)
O presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Paulo Gadelha, disse nesta sexta-feira (5/02), no Rio, que o zika vírus foi encontrado de forma ativa na urina e na saliva. A descoberta foi feita a partir da análise de amostras de dois pacientes com sintomas compatíveis com o vírus zika.
Segundo Gadelha, isso “muda o patamar e a forma que estamos tendo que desdobrar as pesquisas”. No entanto,”o significado dessa descoberta na transmissão ainda deve ser esclarecido”.
Os cientistas observaram que o material coletado nas amostras dos pacientes – além de conter a presença do vírus zika, confirmada pelos chamados testes PCR – também foi capaz de provocar danos em células em testes de laboratório.
Isso comprova a atividade viral, segundo os cientistas. Ainda assim, pesquisas aprofundadas serão necessárias para comprovar se necessariamente haverá infecção através de fluidos.
“O fato de haver um vírus ativo com capacidade de infecção na urina e na saliva não é uma comprovação ainda, nem significa que necessariamente o será, que há possibilidade de infecção de outas pessoas de maneira sistemica através desses fluidos”, disse Gadelha.
“Antes, só foram encontradas partículas não infecciosas. Mas ainda é preciso pesquisar para saber se é possível que se infecte outra pessoa”, reforçou.
Ministério da saúde pede cautela
Depois do anúncio da Fiocruz, o Ministério da Saúde recomendou que as pessoas adotem “cautela e prevenção” e reforcem medidas de higiene para evitar o contágio pelo vírus zika. Entre as medidas sugeridas estão evitar compartilhar objetos de uso pessoal, como escovas de dente e copos, e lavar as mãos com frequência.
A Fiocruz também fez uma série de recomendações. O cuidado com gestantes é uma preocupação da pesquisa, segundo Gadelha.
“Recomendamos às gestantes que evitem grandes aglomerações, que evitem que compartilhem copos e materiais levados à boca. Pessoas que convivam com gestantes e tenham sintomas de zika devem ter uma responsabilidade adicional”, afirmou.
“A evidência de hoje não faz com que nos digamos às pessoas que elas não podem ir para o carnaval”, acrescentou Gadelha. Perguntado sobre a situação dos solteiros no carnaval em relação à possibilidade de infecção por Zika através da saliva, ele enfatizou que o maior cuidado tem de ser com as gestantes. “O risco estará aumentando. Mas não temos isso (evitar o beijo) como uma medida de saúde pública, pelo amor de Deus. Pode beijar!”, exclamou.
O fato de haver a possibilidade de contaminação por urina e saliva, segundo a Fiocruz, não diminui a necessidade de se combater o mosquito Aedes aegypti.
Apesar da descoberta, a Fiocruz acredita que não há possibilidades altas de contaminação por zika durante os Jogos Olímpicos do Rio, realizados em agosto.
“O mês de agosto é um mês de baixa transmissão vetorial. Já está sendo feito um trabalho para o controle de vetores. A população agora talvez entenda que tem que ajudar neste controle”, afirmou Gadelha.
Regular para colaborar
O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, afirmou que tem a informação de que algumas amostras brasileiras de zika já começaram a ser enviadas para a Organização Mundial de Saude, mas alertou que é preciso regulação para que haja uma melhor colaboração com a comunidade científica internacional.
Uma reportagem da agência AP citou nesta quinta que, segundo cientistas estrangeiros, o Brasil não está compartilhando amostras do vírus como se espera. Gadelha é citado alegando ser ilegal enviar amostras desse tipo. O G1 ouviu o Ministério da Saúde e o Ministério do Meio Ambiente, e eles afirmaram que não haveria empecilho legal neste caso.
“Isso tudo tem que estar sob proteção e formas de regulação para que haja uma colaboração horizontal. Temos que ter cuidado também com a biopirataria, com a qual muitos países já sofreram”, afirmou Gadelha. Segundo ele, há entraves na regulação que podem trazer “insegurança jurídica”, detalhou.
“Há interpretação de quem um material genético seja patrimônio do vírus, ou seja, nacional. Outros acham que seja de patrimônio genético humano, então poderia ser levado a outros países”, explicou.